Presidente da Câmara, Dirceu não vai concorrer à reeleição

FLÁVIO MAGALHÃES
JORNAL O IMPACTO

Apesar de ocupar um dos cargos de maior destaque do município, a presidência da Câmara Municipal, o vereador Dirceu Paulino (União Brasil) confirmou para O IMPACTO uma decisão tomada ainda no início de seu mandato: não disputar as eleições deste ano.

Em 2021, primeiro ano da atual legislatura, em plena pandemia de Covid-19, Dirceu era o líder do governo Paulo Silva na Câmara. E foi justamente nesse período que decidiu que não tentaria se reeleger como vereador. As limitações do cargo naquele contexto de crise sanitária pesaram para a decisão.

“A sensação de impotência para ajudar as pessoas naquele momento tão difícil me fez refletir e pensar em não continuar. Foi duro”, relatou. “Eu gostaria de ter feito mais do que fiz, mas a impossibilidade devido à legalidade do que pode ser feito pelos vereadores me fez realmente pensar em não ir mais para a reeleição”, completou.

O estresse, a frustração e a carga de trabalho começaram a afetar a saúde de Dirceu, conforme relatou. “Meus exames estavam completamente alterados. Alguém que tinha sido atleta profissional estava com exame de uma pessoa sedentária e fumante. E eu nunca coloquei um cigarro na boca”, disse.

No final de 2021, Dirceu deixou a liderança do governo. Apesar das questões de saúde serem o principal motivo, também pesou a discordância na condução das relações entre o Executivo e o Legislativo e o próprio desgaste que a administração do prefeito Paulo Silva (PDT) sofreu já no primeiro ano de mandato. “Os erros apareciam demais e os acertos apareciam muito pouco”, resumiu.

Questionado por O IMPACTO se a relação da Prefeitura com a Câmara melhorou desde então, Dirceu respondeu que não. “Eu acho que ainda é um ponto falho”, avaliou. “É um ponto que ele [prefeito] tem que entender que precisa melhorar. Até porque facilita, não para o Executivo, mas para a cidade. Olha quantos projetos importantes a gente votou aqui na Câmara, quantas coisas estão acontecendo hoje porque foi votado, passou pela Câmara. A Câmara é importantíssima e essa ligação entre Executivo e Câmara tem que ser prioridade”, afirmou.

Dirceu: ‘Hoje em dia pessoas como eu são vistas como em cima do muro, que não se posicionam. Não, eu estou me posicionando’ (Foto: Silveira Jr./O IMPACTO)

PRESIDÊNCIA
Passado o primeiro ano, a crise sanitária deu lugar à crise política. E foi em um contexto interno conturbado e de acirramento entre oposição e base aliada que o nome de Dirceu Paulino surgiu como opção à presidência do Legislativo. “Alguns vereadores falavam para mim: ‘olha, a gente precisa de um presidente ponderado, a gente precisa de um presidente que tenha diálogo’. E eles me viam com essas características”, disse. O auge da crise foi o processo que resultou na cassação do vereador Tiago Costa, no ano passado. “Acho que foi terrível não só para mim, mas para todo mundo”, considerou.

Dirceu menciona ainda que fazer a Câmara “voltar a seguir o Regimento Interno” também foi um desafio. “Antes as pessoas podiam falar, pegar o microfone e falar durante a sessão e isso até me trouxe algumas críticas”, lembrou. “Durante a sessão, quem tem a fala, por exemplo, quando se convoca um secretário, é o secretário e os vereadores”, frisou. “Se existe regra, ela tem que ser seguida”, reforçou.

Dirceu também fez questão de agradecer os funcionários e assessores que trabalham no Legislativo, especialmente as que trabalham em seu gabinete da presidência: Adriana Tavares e Hermínia Dovigo. “Para mim são os mais importantes, mais importantes até que os vereadores”, disse.

POSIÇÃO
Politicamente falando, Dirceu se considera alguém de centro. “Deus me deu o privilégio de morar em tudo quanto é país, de esquerda, de direita, capitalista, comunista. Eu vivi tudo, então eu sei a diferença. E eu acho que aqui, infelizmente, não existe isso. Existe a direita de conveniência e existe a esquerda de conveniência”, afirmou. Por isso, defende que o Poder Público deve ser pragmático. “Se eu tiver que pedir dinheiro para o Bolsonaro, eu vou pedir. Se eu tiver que pedir para o Lula, eu vou pedir, porque a cor do dinheiro é a mesma”, defendeu.

“Eu me considero de centro porque eu pego as coisas boas que tem na direita e na esquerda e faço uma junção. Só que hoje em dia pessoas como eu são vistas como ‘em cima do muro’, sabe? Que não se posicionam. Não, eu estou me posicionando”, declarou. “Hoje em dia, tem que ser de direita ou tem que ser de esquerda, senão as pessoas não vão confiar em você, não vão votar em você. É o que esse pessoal faz, se declara de direita rasgado, mas porque Mogi Mirim elegeu Bolsonaro, elegeu Tarcísio. Será que eles são mesmo ou então de olho no voto? Como eu não sou candidato, para mim isso não influencia, eu sigo no que eu acho que tem que ser”, continuou.

Apesar de não concorrer à reeleição como vereador, Dirceu estará no palanque do prefeito Paulo Silva. “Eu apoio o Paulo porque, por mais que ele tenha um viés de esquerda, ele não fecha a porta para a direita. E a gente não pode esquecer que a vice provavelmente vai ser uma pessoa de direita”, disse, se referindo a Maria Helena Scudeler de Barros. “E a população não quer saber se ele é de esquerda ou se ele é de direita. É o Paulo Silva”, completou. “Ele tem, como todo mundo, os defeitos e as qualidades dele. Mas eu pude conviver um pouco mais com ele e eu vejo essas qualidades importantes para um prefeito”, disse ainda.

REALIZAÇÕES
Ex-atleta, Dirceu foi eleito tendo o Esporte como uma de suas bandeiras, obviamente. Nessa área, se orgulha de, através de emenda impositiva, contribuir com o projeto Jovem Talento. “Eram 80 crianças nos dois primeiros anos e agora eu consegui passar para 320. Serão 320 crianças participando de futsal, vôlei e judô. E isso foi maravilhoso. Se eu não tivesse sido vereador, eu não teria conseguido”, afirmou.

A realização mais marcante, porém, não foi no Esporte. “Uma vez eu estava numa festa junina, veio uma senhora. Ela nem me cumprimentou, ela me abraçou. E ela falou assim: ‘sabe que você me deu a maior alegria depois dos nascimentos das minhas filhas e das minhas netas? Até o ano passado eu não conseguia enxergar as minhas netas. Eu estava cega e por causa da emenda que você trouxe que fez aquele mutirão da operação dos olhos eu voltei a enxergar minhas netas’. Na hora, eu chorei”, contou. “Saber que eu consegui trazer alguma coisa para a cidade que fez com que essa mulher, que não via as netas, pudesse vê-las, isso não tem preço. Vale todo o desgaste porque, pela primeira vez na minha vida, eu senti que eu fiz um pouquinho do que minha mãe fez para muita gente”, afirmou.

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