Antonia do Carmo Marchese, pesquisadora e secretária do Cedoch

O Cedoch, com o objetivo de defender os patrimônios históricos, tem para com o Coreto da Praça Rui Barbosa o maior zelo para manter suas características originais. Cada vez que se aproximam as festas comerciais da cidade, o utilizam para decoração e aí partes dele se estragam.

O respeito de sua valorização começou quando, em agosto de 2018, o Cedoch recebeu um ofício da Acimm (Associação Comercial e Industrial de Mogi Mirim) que solicitava autorização para realizar pintura no Coreto. Defendemos, então, que não seria mais uma pintura, mas, sim, um restauro. Fizemos um parecer técnico assinado pelo arquiteto e urbanista Eduardo Alcântara Dias – que na época era nosso pesquisador. Uma comissão se formou e também fomos pesquisar nas páginas do jornal A Comarca da época o que se escreveu sobre o coreto para embasar a tese de que, devido sua importância histórica, somente pintura não bastava. Havia a necessidade de se restaurar, como o fizeram agora e será entregue à população em 2 de maio de 2024.

Transcreveremos parcialmente o parecer do Cedoch sobre sua linda arquitetura e algumas fotos que mostram sua utilização na praça. Isto situa o leitor na defesa do restauro de prédios antigos – como este de 1940 – e não somente uma pintura, como se habitua fazer.

No jornal A Comarca de 29 de fevereiro de 1940, foram publicados detalhes da inauguração do “Jardim”, em 25 de fevereiro de 1940, quando o Coreto foi palco para autoridades. “O Senhor Ataliba da Silveira Franco, prefeito, assomou ao Coreto acompanhado do Dr. Cintra do Prado, juiz de Direito, e de várias outras pessoas, pronunciando o discurso que inauguraria a Praça Ademar Pereira de Barros”, hoje atual Praça Rui Barbosa.

Louvamos a volta do Coreto nos palcos com a pintura que aproxima do que era o original e de ser um ponto de encontro das pessoas. Precisará de mais bancos ao seu redor e de cuidar de seu entorno onde as calçadas eram de pedrinhas desenhadas e possuía muros de vegetação bem cuidados. A modernidade o abastece agora com nova iluminação e câmeras de segurança para impedir vandalismo.

PARECER TÉCNICO SOBRE PINTURA E MANUTENÇÃO DO CORETO SANTA CECÍLIA

1 – DA FINALIDADE E LOCALIZAÇÃO
As praças públicas, para muitos, ainda é a melhor opção quando o assunto é lazer, que além de embelezar a cidade contribuem na qualidade de vida, interação e descontração de toda uma população, sendo o ponto de encontro de gerações. É nas praças que vemos casais namorando, crianças brincando, idosos batendo papo e relembrando grandes histórias, enquanto aproveitam a sombra e o vento fresco de árvores em meio a jardins e flores, apreciando a natureza em cidades onde o habitual é se ver edifícios em concreto.

A Praça Rui Barbosa marca o centro de Mogi Mirim por décadas, conhecida e lembrada por muitos moradores e visitantes, abrigando a Matriz de São José, a mais importante da cidade, juntamente com elementos urbanos que a deixam tão conhecida, entre eles o Coreto Santa Cecília.

2 – CARACTERÍSTICA HISTÓRICA E ARQUITETÔNICAS
Os coretos são elementos que marcaram a história de muitas praças a e jardins, causando grande impacto social, festividades religiosas e folclóricas, pronunciamentos políticos e atividades culturais, como os famosos concertos da Banda Lyra. O coreto Santa Cecília foi tombado patrimônio histórico da cidade em 2006, sendo uma figura importante na história de Mogi Mirim, tendo sua construção feita por volta de 1940.

Seu estilo arquitetônico é Art Déco, este que foi muito popular nas construções feitas entre 1930 e 1940 por todo Brasil, considerada uma arquitetura luxuosa e moderna, inclusive em Mogi, que também fez grande uso durante este período.

Uma das principais características do Art Déco na arquitetura é a simetria, verticalidade, uso de volumes e a geometrização das formas, sendo uma arquitetura pura, sem uso de muitos ornamentos, tendo uma simplificação do desenho, condizendo em uma arquitetura estabilizada.

3 – ANÁLISE
O Coreto conta com forma hexagonal e base elevada, tendo um pilar em cada vértice em sua estrutura feita de alvenaria, juntamente como seu guarda corpo, que traz recortes geométricos simétricos, assim como sua composição final.

Sua arquitetura é pura, sem muita ornamentação, com o coroamento simples, criando um jogo dos volumes e brincando com formas geométricas e promove um ritmo a construção.

Os pilares além de seu papel estrutural, também seguem o estilo Art Déco, fazendo um jogo de volumes que se contrapõem uns aos outros, atividade comum de se observar em grandes edifícios neste estilo.

O guarda corpo, além de trazer segurança, brinca com a simetria e geometrização das formas, sendo original da época que foi construído, estando em perfeito estado de conservação estrutural.

O corrimão, peça estilizada posteriormente à construção, agrega leveza ao Coreto, usa de formas arredondadas sutis que convidam o visitante a adentrar de forma segura, estando sempre aberto à visitação. O Coreto conta ainda com seu piso original, cortado de forma quadrangular em pequenos pedaços que são encontrados em toda base coberta. O piso deve ser recuperado em sua cor primária, que é cimento.

A partir de pesquisas, podemos afirmar que o coreto já foi modificado até chegar em seu estilo atual. Não foi possível definir a cor original usada ao longo do século 20 por meio de imagens, mas chegamos à conclusão que a melhor forma de honrar sua história e estilo é a restauração do mesmo, buscando sua cor original com pessoas especializadas.

4 – CONCLUSÃO (EM 2018)
Pelo exposto sugerimos: o Coreto Santa Cecília, objeto deste estudo, apresenta bom estado estrutural, mas necessita de restauro.

Arquiteto Eduardo Alcântara Dias

OBSERVAÇÕES
Este parecer, nº 12/2018, sobre o Coreto foi elaborado em conjunto com a chafariz da praça e seu texto se encontra na íntegra no arquivo do Cedoch, ficando a disposição do leitor, caso se interesse a ler por completo.

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Cedoch: Centro de Documentação Histórica Joaquim Firmino de Araújo Cunha. Está situado em uma das salas da Biblioteca Pública de Mogi Mirim, na Praça Barão de Rio Branco, 5, Centro.